Uma reflexão sobre o Brasil
É necessário sempre ouvir os dois lados e nós sabemos que cada um tem a sua razão. É preciso ter calma, para que os pontos de vista sejam defendidos na paz, pois ânimos acirrados não levam a lugar nenhum que não seja a intolerância.Mais importante que o que ir às ruas ou militar nas redes sociais, é saber o que se está pedindo, o porquê e a consequência.
A crise política que enfrentamos, inflamada por setores da mídia nacional, tem atingido cada vez mais a nossa economia. E agora se vende a solução de que algo tem que ser feito urgentemente, custe o que custar. Mesmo com a economia em turbulência, há um setor forte que curiosamente patrocina a formação de opinião no apoio aos principais telejornais nacionais, direcionando na condução do caos, pois ganha muito com isso: os bancos brasileiros que têm tido, neste período, lucros estratosféricos.
Estamos entrando em um ciclo muito ruim para o pais que é quando se deixa de investir no capital produtivo, industrial, que gera menos lucro, mas é seguro e gera emprego, fazendo a riqueza circular, em detrimento do investimento no capital especulativo e financeiro, que proporciona lucros imediatos e mais altos em detrimento do arrocho na economia brasileira, concentrando cada vez mais o capital, nas mãos de quem tem mais.
Vivemos uma grave crise de governabilidade, com uma presidente perdida politicamente e um congresso em sua maioria preso aos mais escusos meios de pressão ao poder central, barganhando de maneira ilimitada por ministérios, cargos e liberação de emendas parlamentares. Diante da atual situação, não consigo enxergar qualquer solução sem o amplo diálogo entre governo e oposição. Pois, claramente a oposição não deixa os atuais governantes governarem e se os que governam forem arrancados do poder, por exemplo com um processo de impeachment, tenho clareza em afirmar também que quem quer que assuma, não governará em paz, com os atuais governantes passando a desempenharem o papel de oposição.
É necessário urgentemente um pacto em comum acordo com as duas forças, pois do contrário, nenhuma conseguirá governar. Se é para mudar, que as mudanças sejam profundas. Nada será resolvido num passe de mágica, pois não estamos vivendo num conto de fadas.Ou alguém acredita que a carruagem vai virar abóbora do dia pra noite com o nosso pais sendo governado por Michel Temer, Renan Calheiros, Eduardo cunha e por um congresso que tem nomes como Paulo Maluf, Fernando Collor e algumas centenas de parlamentares que receberam propina da Lava-Jato, incluindo nomes da oposição?
Seria o mesmo que arrancar um pé de carrapicho por cima e deixar a raiz. Raiz de tudo que começa no processo eleitoral e estamos bem próximos a novas eleições, onde tudo isso poderá se repetir, pois esse dinheiro em sua grande parte, serve para pagar contas de campanhas usadas pelos políticos, em parte até mesmo para comprar o voto dos que se vendem sob as mais variadas desculpas, e atinge a todas as classes pois não é só o pobre que vende o voto.
A mudança tem que ser profunda e ela se dá pelo voto. A não ser que se convoque uma Nova Constituinte e se zere o jogo, com eleições gerais que até poderiam ser emendadas com as eleições municipais de outubro. É importante compreender que os prefeitos não governam sem os vereadores; que os governadores não governam sem os deputados estaduais e que um presidente não governa sem os senadores e deputados federais. E a lava jato atinge justamente a relação de promiscuidade entre esses poderes onde, geralmente, o executivo submete-se a levar facadas do legislativo para aprovar de tudo, independentemente de ser ou não o melhor par ao país.
A maior crise que vivemos, é uma crise de valores, de ética, de moral e está entrelaçada em todos os poderes. Tenho medo de fato de uma guerra civil, pois se não ocorrerem mudanças profundas proporcionadas por uma Constutuinte ou pactuadas entre situação e oposição, nenhum lado permitirá que o outro governe e isso infelizmente já está nas ruas, nas discussões acirradas entre as pessoas, sejam estranhos, amigos ou até familiares que se dividem em brigas fraticidas e não chegam a lugar algum.
Brigas e discussões entre pessoas ou sob o manto da virtualidade das redes e mídias sociais. A coisa mais comum no comportamento das pessoas observado nos últimos meses, é o passa e repassa de ideias, ideologias, frases e conteúdos que não se sabe as origens e os verdadeiros objetivos, sejam contrários ou favoráveis ao governo. Cuidado para não virar leitor de manchetes de facebook e instagram, repassando coisas que em nada contribuem para uma discussão saudável e elucidativa.
E aí eu pergunto: a quem interessa um Brasil dividido?
É fundamental a presença do povo nas ruas, seja de um lado ou de outro. Mas vale a pena perceber que somos um bebê recém-nascido em se tratando de democracia e exercício pleno da cidadania. De aproximadamente 500 anos de história, possuímos apenas algo em torno de 10% de nossa existência enquanto Brasil, dentro deste regime. Estamos em processo de aprendizado. Acertando, errando, sendo conscientes ou manipulados sem perceber. Isso é importante, mas devemos ter calma, para analisar tudo o que ocorre ao nosso redor.
Quem ganha com o caos instalado no país?
Isso cria condições para que medidas extremas sejam tomadas e o pior, legitimadas por parte de uma população cansada de corrupção, revoltada com a crise na economia e que não enxerga que se é para mudar, a mudança tem que ser profunda e não superficial, por que ontem foi no governo de A, hoje é no governo de B e amanhã será no governo de C.
Os fins justificam os meios? Vai-se atropelar a Constituição Brasileira a qualquer custo, sob a ilusão de que medidas extremas resolveriam o problema do país num passe de mágica? Tem que haver limite. É necessário frear e porque não dizer: acabar com a corrupção enraizada no Brasil, mas tudo dentro da lei e sem excessos de nenhuma das partes. Nem o juiz Moro, nem Dilma, nem Lula, ne Temer, nem os tribunais, nem Aécio neves está acima da lei. É mais difícil, mais complicado, mas se cada um encontrar um fim que justifique um meio de burlar as leis do país, aí, sim, teremos um caos total estabelecido no país com consequências imprevisíveis.
Vamos rasgar a constituição para salvar o Brasil? Porque não uma nova Constituinte para zerar o jogo e de fato mudar os políticos e votar as reformas que o Brasil precisa? Tributário, política, econômica, trabalhista… há quantos governos falamos sobre a necessidade dessas reformas? E cadê? Uma coisa é a briga política interminável entre situação e oposição. Uma coisa são as suspeitas e investigações. Outra coisa são os fatos reais, as provas e comprovações, os argumentos técnicos e jurídicos por mais que politicamente se esteja a favor ou contra o investigado, seja de que partido for.
O que vale para um tem que valer para o outro. Pau que bate em chico tem que bater em Francisco. O momento em que vivemos é bem parecido como um jogo de futebol: quando um lado faz o gol, mesmo que tenha colocado o pé pro adversário cair, os do time que marcou o gol defendem e o time adversário contesta e esculhamba com o juiz. Quando o contrário acontece, do mesmo modo, a situação se inverte completamente.
Quer dizer que “O Cara” agora é Eduardo Cunha, com milhões de dólares no exterior e ele é o principal indutor do processo de Impeachment? Como fica a condição ética e moral do Congresso Nacional para votar o pedido de impeachment, quando grande parte recebeu, diretamente ou indiretamente via seu partido político recursos de campanha de empresas que superfaturaram contratos com a Petrobras? “Ah, mas a doação é legal…” Não é! É propina disfarçada de doação de campanha.
Se é para mudar que se mude em profundidade, que se convoque eleições gerais e uma nova Constituinte. O Brasil não aguenta mais viver de remendos, acordos escusos, conchavos e conspirações baratas e intermináveis pelos bastidores, na luta pelo poder. Se isso acontecer, o lado que ganhar, respeite o outro e deixe o país andar para frente.
O Brasil é grande, rico, tem um mercado consumidor espetacular e um povo trabalhador e criativo que desperta os olhos do mundo inteiro. Não podemos nos dividir. Tem gente de olho em nossa economia, em nosso petróleo… ora, se a Petrobras está falida, porque multinacionais querem compra-la? Porque empresas estrangeiras querem investir para explorar o nosso petróleo mesmo com tanto caos na empresa e na economia brasileira?
Vamos ter cuidado com o que pedimos nas ruas, por parte de ambos os lados. O ódio, os ânimos acirrados não constroem; só dividem. O que constrói é o debate de ideias e não de ataques às pessoas de qualquer partido que seja.
Olhemos para os países ditos desenvolvidos e com alto padrão de ensino e educação: as pessoas que divergem esculhambam umas com as outras? O povo desrespeita aos seus governantes por mais que cometam erros? Eles falam mal do próprio país, dizendo que não tem jeito, que não tem futuro e que vai se mudar do país? É triste ver manchetes internacionais expondo a cada um de nós e ver brasileiros aplaudindo. Estão aplaudindo o nosso caos? Lavemos a nossa roupa suja dentro de casa. Falamos mal e reclamamos de nossos governantes, mas, quem os escolheu? É como falar mal de si mesmo.
Tenhamos cuidado, pois quem ajuda a vender e propagar o caos, depois vai ganhar muito para vender soluções extremas a qualquer custo para o nosso país, que seria “justificável” diante da situação, por mais que venha a atropelar a nossa soberania nacional, e a comprometer a nossa dignidade, nossas leis, o estrado democrático de direito, nossa economia e nosso patrimônio.
No dia em que entendermos em profundidade o valor do voto, que é a forma mínima de exercício da cidadania, aí sim, caminharemos rumo ao Brasil do futuro que tanto desejamos.
ROBSON CARVALHO
SOCIÓLOGO E CIENTISTA POLÍTICO
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