LULA E FHC PRECISAM TOMAR UM CAFÉ…
Considerando que vivemos em uma democracia representativa, os políticos eleitos, principalmente para o Congresso Nacional, representam a grande massa dos eleitores ou pequenos grupos e seus interesses?
Interesses empresariais ou de trabalhadores, das especulações do mercado financeiro nacional e internacional ou do capital produtivo, das trabalhadoras domésticas ou do Ministério Público, a posse do Presidente da República e o referendo aos integrantes da Suprema Corte do Judiciário, tudo passa pelo Congresso Nacional.
O Congresso Nacional ganha vida, no calor dos debates e votações onde os personagens vestem as roupas das dezenas de partidos. O Brasil possui hoje 32 partidos. Uns de aluguel; outros mais consistentes. Do ponto de vista de identidade ideológica, daria para transformá-los em 03 ou no máximo 05 grupos. Sim, essa pulverização partidária é exagerada e dificulta os processos de tomadas de decisões. Mas, se aproximadamente 98% dos partidos têm dono, diminuir o número de partidos, concentraria ainda mais poder decisório nas mãos de poucos.
Hoje, na prática, o Brasil está dividido em dois grandes grupos políticos diferentes, mas que são subordinados aos mesmos grupos econômicos, que os mantêm financeiramente vivos, na situação ou na oposição. A Lava-Jato tem demonstrado claramente que os verdadeiros “Donos do Poder” atuam ajudando a todos financeiramente e assim, conseguem ser representados “democraticamente” pelos políticos das duas bandas e seus agregados. Uma mão lava a outra.
Quais são esses dois grupos políticos? Um é mais identificado com “as esquerdas e o PT” e o outro com “as direitas e o PSDB”. Ambos cometeram erros e acertos, avanços e retrocessos nas oportunidades que tiveram de governar o país. Mesmo assim, são atualmente as duas maiores bandas de um mesmo Brasil.
Lula, que já chegou no auge de sua popularidade a liderar com folga as duas bandas do país, hoje só consegue “reinar”, na sua banda. Mesmo assim, há que se reconhecer que não deixa de ser a maior liderança política do Brasil. Mesmo diante de todas as acusações sofridas, juntamente com a Ex-Presidente Dilma, às suas pessoas e aos seus governos, em relação à corrupção e ao caos na economia, ambos ficaram marcados por avanços importantes nas áreas social e na educação.
Fernando Henrique, mesmo xingado eternamente pela esquerda, tem o mérito de ter equilibrado o país na área da economia, proporcionando as condições para os avanços do governo Lula, tão neoliberal quanto o do amigo de longas datas, na área social.
FHC não lidera a banda da direita, com a mesma expressão que Lula lidera na banda da esquerda, mas conserva o respeito e admiração do polo oposto, o que o coloca com a condição apropriada para liderar diálogos com a banda de Lula.
Vale destacar que a direita encontra-se totalmente dispersa, principalmente pós problemas com Aécio Neves, o que gera o perigo deste vácuo de liderança abrir espaço para qualquer oportunista de plantão, envelopado por um bom trabalho de marketing e mídia nacional, surgir como salvador da pátria. É aí que o papel de FHC assume grande importância.
A saída para esta crise, tenho dito desde 2013 e em 2016 escrevi artigo sobre isso (VEJA AQUI https://robsoncidadao.com.br/noticia/15302), se dará pelo amplo diálogo e pactuação pelos dois lados. Um país dividido/polarizado preocupa. Gera instabilidade. Cria ambiente para arrancar do seio político democrático a construção de uma solução. Não creio que haja para o Brasil qualquer saída da crise econômica sem que se estanque a crise política, que derrubou Dilma, poderá derrubar Temer e os próximos que vierem, sem uma transição discutida.
Michel Temer, indesejado pelas duas bandas, não sairá por ele mesmo. Só com a união das duas bandas. O problema é que a banda da direita percebeu que tirá-lo do poder por meio das “Diretas Já” favorecerá a chegada ao poder da outra banda: a esquerda com Lula, caso o mesmo possa ser candidato. E a banda da esquerda sabe que se for pelo caminho das “Indiretas Já”, pelo Congresso Nacional, será eleito um nome ligado aos que estão atualmente no poder.
Nunca teremos paz política, nem estabilidade econômica, já que uma banda, sem diálogo, não aceitará a outra no poder, prejudicando o governo de quem estiver na Presidência e a tomada de decisões também no Congresso, que precisa discutir e votar sem açodamento, reformas nas áreas tributária, trabalhista, política, agrária e previdenciária.
Familiares brigaram e amizades se desfizeram em todo o país por causa dessa divisão. Continuam fazendo o papel de meros fantoches, sem saber por quem são manipulados. Não entenderam, ainda, que juntos somos todos mais fortes. Precisamos compreender que ricos ou pobres, PSDB ou PT, petista ou coxinha, corrupto ou honesto, tudo é Brasil. Até agora, além da avenida paulista, coração financeiro do país, quem mais ganhou com essa crise política e econômica?
Lula e Fernando Henrique precisam tomar um café, dialogar e entrar em consenso. Estiveram juntos na instauração da democracia brasileira e nos velórios das respectivas esposas em gesto de solidariedade. Governaram o Brasil, pactuaram a transição de um governo para o outro e precisam agora discutir os caminhos para modernização do Estado Brasileiro.
Unidos, ganharão força para conduzir os líderes de suas bandas, reagrupando o povo brasileiro e convidando para o café: o Congresso, o Judiciário e a Mídia, a fim de resolverem a crise política e, articulados com os verdadeiros “Donos do Poder”, criarem as condições favoráveis à solução dos problemas na economia.
*Robson Carvalho é cientista político, mestrando na área
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