E você? Vai abrir mão de quê?
Estava aqui na Toyolex aguardando meu carro sair da revisão e escrevi esse artigo abaixo. Não é a verdade absoluta. Mas um assunto que vale a pena discutirmos… Qual a sua opinião?
Assim como boa parte dos políticos ainda creem que os governos e as prefeituras podem tudo, centenas de milhares de cidadãos e suas respectivas famílias e empresas, também creem que ainda podem tudo, mesmo sem nunca terem possuído condições de verdade, por falta de lastro.
Conversem com qualquer contador do setor público, de empresas privadas ou de pessoas físicas e vocês encontrarão a materialidade do que estou falando: o consumo desenfreado e irresponsável tomou conta das mentes de muitos destes personagens da vida real, que insistem em viver em um mundo irreal.
É muito fácil observar famílias vivendo com padrão de vida insustentável: gastando o que não tem, para comprar o que não precisa e mostrar o que não é. O mais incrível é que, em muitos casos, quanto maior o salário, maior o endividamento, principalmente no caso de funcionários públicos: vários deles, com dois, três casamentos nas costas, bancando pensões, devendo a agiotas, cartões de crédito e por consequência, com o nome sujo na praça. Trata-se de uma desestruturação familiar que sai do âmbito do privado e atinge toda a sociedade por meio da famigerada inadimplência.
Ao voltarmos os olhares para milhares de empresas, encontramos uma realidade que não é tão distinta: É grande a quantidade de “empresários” bancando um padrão de vida que não tem a menor condição de ser suportado pelas sua próprias empresas. Convivem traumaticamente com os seus negócios, perdidos na ilusão da confusão do lucro com o apurado. De dentro dos seus carros importados, à beira de serem recolhidos pela justiça, olham para dentro de suas empresas, praticamente falidas e se dão conta de que estão devendo um mundo de dinheiro em impostos. Colocam a culpa na carga tributária, nos políticos corruptos e na “crise”, mas não abrem mão do estilo de vida.
Boa parte dos gestores públicos, que antes de serem “políticos”, são pessoas iguais às que narramos acima, governaram, ao longo de décadas, mergulhados em populismos, bancando assistencialismos sem medidas, inflando a máquina pública com concessões insustentáveis a servidores e criando, em alguns poderes, verdadeiras castas que nadam em um mar de tantos privilégios e regalias que por pouco não se afogam. Sem contar com o soerguimento de inúmeras obras físicas faraônicas, desnecessárias, muitas vezes superfaturadas e que até se transformaram em elefantes brancos.
Parece que não se percebe que estamos todos juntos e num mesmo barco. Ninguém quer abrir mão do seu quinhão, por mais que seja ilusório e insustentável o padrão de consumo das pessoas, das empresas e do setor público. Muitas pessoas precisam rever seus orçamentos familiares e primar pelo consumo responsável. O mesmo comportamento se espera de empresários e políticos.
Há pais e mães, solteiros ou separados, que não conseguem dizer não a eles próprios e aos caprichos de alguns filhos mal acostumados que querem “pra ontem” o que, muitas vezes, é supérfluo e em alguns momentos jogam a responsabilidade financeira nas costas dos avós, aposentados, através de um empréstimo consignado.
Há empresários que poderiam até diminuir seus pró-labores, mas optam por demitir funcionários. Há outros que devem impostos, mas não se dão conta de que se não pagarem aos governos, estes não pagarão aos seus fornecedores e funcionários que, não recebendo o que lhes é devido, não consumirão no próprio comércio. É um ciclo sem fim.
Aos políticos-gestores, o alerta de que se não fizerem ajustes necessários e de maneira justa, sem privilegiar castas, mesmo enfrentando os desgastes das medidas impopulares e o bombardeio de setores de mídia articulada com oposição oportunista, verão as instituições que dirigem entrarem num poço sem fim.
Pois é. A conta, meus amigos, chegou para todos nós e com data de vencimento que não pode mais ser alterada. Talvez não seja o seu caso e você cidadão, político ou empresário, esteja com a sua casa arrumada. Mas, como vivemos em um mundo globalizado, o desmantelo do vizinho, um dia baterá à sua porta.
Ajustes são necessários em todos os âmbitos. É como se o Brasil estivesse precisando também de uma PEC do Teto dos Gastos para as empresas, famílias e pessoas físicas. E é aí que a cobra acende um cigarro para fumar, te encara e pergunta: “E você? Vai abrir mão de que?”
Robson Carvalho é cientista político, pós-graduado em gestão pública pela UFRN.
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