[COMENTÁRIO] O Alzheimer político e suas consequências.
No meio político, especialmente em relação à vida político-partidária e ao exercício do poder nas diversas esferas, há um componente importante: O compromisso em relação às promessas feitas ao eleitor e a gratidão em relação aos aliados, sobretudo aos de primeira hora.
É evidente que compromisso, gratidão e memória são essenciais à boa convivência e à credibilidade na política, mas sabemos que o dia-a-dia mostra as traições, as promessas e o esquecimento daqueles que “deram o sangue” pela vitória do seu grupo.
Maquiavel já falava que nem sempre o exército que conquista é o mesmo exército que ocupa e ajuda a governar. Dependendo das manobras de quem trai, esquece e quebra a palavra, podemos ter resultados diferentes como consequência: o fortalecimento, a queda ou desgaste de quem pratica esse tipo de política.
Bolsonaro, mesmo sendo um “velho” político, foi eleito com o discurso da “nova política”. Na prática, no desempenho de seu mandato, porém, age de modo a quebrar promessas cruciais, como a de não fazer “toma-lá-dá-cá” com o Congresso. Fez e serviu inclusive para sepultar a CPI da Lava Toga, que beneficia o seu filho investigado Flávio e está servindo também para tentar beneficiar seu outro filho Eduardo, para transformá-lo em embaixador.
Em sua crise de memória, esqueceu também de que o seu slogan “Brasil acima de todos” deveria valer para ele também, mas, refém do Queiroz, sepultou o COAF, aparelhou a Receita, a Procuradoria Geral da República, fez acordo com o STF e age para transformar a Polícia Federal numa agência de “arapongagem” que funciona apenas contra adversários políticos e blinda a ele mesmo e a alguns setores do seu Governo.
O seu problema de memória, aliado ao instinto de sobrevivência, pôs também no esquecimento a gratidão de seus aliados de primeira hora, como Gustavo Bebianno e agora atinge também ao Senador Major Olímpio, ao Luciano Bivar – homem a quem ele alugou a legenda (PSL) para sair candidato à Presidente, depois de mais de diversas mudanças de partido.
Se a jogada de seus aliados e do próprio partido na fogueira não tiver sido bem costurada como foi o Queiroz e Bebianno e se jogar a estes demais laranjas e operadores do PSL que fizeram a sua campanha na cova dos leões, Bolsonaro correrá sérios riscos políticos. Basta um abrir a boca e dar o primeiro grito.
Vale destacar que também está em jogo, na briga interna do PSL, uma gorda e milionária cifra para ser dividida, fruto do fundo partidário e eleitoral.
Lembramos ainda que uma Deputada do próprio PSL, que está botando a boca no trombone, foi ameaçada de morte pelo Ministro do Turismo, que permanece imexível no cargo; Joyce Harshman já não sabe se fica no partido; a advogada do partido já diz que o discurso foi rasgado e os problemas do PSL no RJ, cidade natal do Presidente, já estão rachando completamente o partido, inclusive com membros ameaçados de expulsão do partido pelo próprio filho do Presidente.
Sem sustentação política, ninguém fica em pé, muito menos diante da crise fiscal que só se agrava, ainda sem perspectiva de solução. Pelo visto, queimado mesmo agora está o próprio Presidente, que de uma coisa não esquece, apesar do seu alzheimer político: culpar sistematicamente a imprensa, talvez, por ser justamente a imprensa que faz com que diariamente o presidente seja lembrado e cobrado de incômodos fatos e do fedor das crises criadas por ele, pelo seu próprio governo e por seu partido.
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